VEJAM A REPORTAGEM DA REVISTA ISTO É Edição: 2093
Assim deve ser o mundo
Se não conseguirmos conter o aquecimento global, nosso planeta mudará radicalmente nas próximas décadas. Conheça esse futuro sombrio
Graças à evolução impressionante das técnicas de computação gráfica, o cinema-catástrofe volta a viver uma fase de ouro em Hollywood. O talento de artistas para criar tornados digitais, tempestades de neve virtuais e toda sorte de hecatombe leva milhões de pessoas às salas de projeção. Um dos filmes recentes do gênero, “O Dia Depois de Amanhã” (2004), mostra o que uma crise ambiental de proporções gigantescas pode causar em nosso planeta. Sucesso imediato.
Infelizmente, o enredo que se desenrola à nossa frente parece ter semelhanças demais com a ficção. Se não tomarmos medidas concretas para deter o avanço do aquecimento global, a Terra pode sim mudar radicalmente e virar o cenário de uma história catastrófica, da qual seremos tristes protagonistas. Caso a humanidade consiga limitar o aumento na temperatura em 2ºC até 2100, objetivo perseguido em vão durante a COP-15, já teremos de lidar com alterações significativas (leia quadro abaixo). Se não fizermos absolutamente nada e continuarmos a emitir gases do efeito estufa no mesmo ritmo das últimas décadas, os termômetros podem subir até 5,8ºC ao final do século. Neste caso, melhor seria procurar outro planeta disponível para abrigar alguns bilhões de pessoas.
O principal gás do efeito estufa emitido pela atividade humana é o CO2, proveniente do consumo de combustíveis fósseis – petróleo, carvão e gás –, das queimadas das florestas e das atividades agrícolas. Antes da Revolução Industrial, o nível de CO2 no ar rondava as 290 partes por milhão (ppm). Em 2009, alcançou 385 ppm, e a cada ano sobe entre 2 ppm e 3 ppm. Quando se somam o metano e outros gases do efeito estufa ainda mais poluentes, esse nível já atinge cerca de preocupantes 440 ppm.
DANO IRREVERSÍVEL
Mesmo que zerássemos as emissões de CO2 hoje, a Terra ficará 0,50C mais quente até 2040
Atitudes conjuntas As mudanças e adaptações impostas pela atual situação são de responsabilidade de todos. Se os líderes mundiais patinaram em Copenhague, cabe à sociedade civil cobrar atitudes locais de seus governantes. A cada um de nós, ainda resta a oportunidade – ou obrigação – de tomar atitudes ambientalmente adequadas no dia a dia. A informação está disponível, seja nas páginas desta edição de ISTOÉ, seja nos inúmeros sites e publicações sobre o estilo de vida verde. Basta querer.
O fato, facilmente confirmado pelas recentes vítimas das enchentes na cidade de São Paulo, é que já vivemos em um planeta em mutação climática. Como o CO2 fica aproximadamente 30 anos na atmosfera do planeta, a temperatura média global deve subir cerca de 0,5ºC nas próximas décadas, quaisquer que sejam as medidas tomadas para diminuir as emissões. Portanto, vêm aí tempos mais difíceis para todos – porém, no mínimo instrutivos, como observa Thaís Murce, ex-coordenadora do Programa Tecnológico de Mitigação das Mudanças Climáticas do Centro de Pesquisas da Petrobras (Cenpes) e atual gerente da Petrobras Biocombustível: “O aquecimento global desfavorece o desenvolvimento sustentável, mas, ao mesmo tempo, buscar essa sustentabilidade é muito importante no processo para aumentar nossa resiliência às mudanças climáticas. Temos de desenvolver novos processos e negócios com essa consciência.”
Futuro de dor
Saiba como poderá ser o planeta no ano 2100 se a temperatura média subir 2ºC




"Copenhague Derreteu"
O mundo decidiu adiar em mais um ano o compromisso de controle das emissões de gases causadores do efeito estufa na atmosfera. Adiaram o inadiável. A ideia de retardar o acordo veio justamente dos EUA e da China, nações que estão entre as mais poluidoras do planeta. O argumento das duas: ainda não estão em condições de assumir metas de redução. Acham prematuro fechar um número seguro em poucas semanas para apresentar na Conferência do Clima que acontece em Copenhague, no mês de dezembro.








O doutor Norbert Bischofberger fica irritado quando alguém argumenta que ele está cada vez mais rico graças à gripe suína, também conhecida como Influenza A. Mas a verdade é exatamente essa. Como inventor do Tamiflu, única droga eficaz contra o vírus H1N1, o austríaco tem direito a uma saudável fatia dos lucros obtidos com o medicamento.





Estas irregularidades não são exclusividade do Estado de São Paulo. A freira Maria Elilda Santos que coordena a ONG Organ Traffic, ligada à Igreja Católica, que combate o tráfico de órgãos no Brasil e na África, já tinha alertado as autoridades brasileiras sobre a atuação desse suposto esquema criminoso. "Nenhum doador sabe se de fato seus órgãos foram para quem está na fila de transplante", diz Elilda. Pior: ela desconfia das estatísticas oficiais. Em 2008, foram feitos 17.428 transplantes. No entanto, segundo a Organ Traffic, sem nenhum controle, porque as equipes agem por conta própria em hospitais e necrotérios, como no caso da avó de A.L. No Brasil, existem 1.282 equipes habilitadas em 937 hospitais para realizar tais procedimentos. O mais grave é que o MP paulista descobriu que muitos desses funcionários recebem comissão para conseguir os órgãos. "São quadrilhas que se escondem atrás do nome de captadores e agem sem escrúpulos para cumprir uma demanda", diz Elilda. A freira, que denunciou o drama de A.L. à Organização dos Estados Americanos (OEA), e o promotor Porto entendem que deve ser feito um acompanhamento da retirada dos órgãos por agentes públicos. Em 2007, o Ministério da Saúde fez um acordo com o Conselho Federal de Enfermagem de só permitir o procedimento de extração de córneas com a supervisão de um enfermeiro.









Em 10 de fevereiro do ano passado, por exemplo, Carlos Gustavo Vianna Direito, juiz do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, e sua mulher, Theresa Direito, chegaram ao Aeroporto Internacional Antônio Carlos Jobim, no Rio de Janeiro, às 7h25. Viajaram no voo 0442 da Air France, procedente de Paris. Três dias antes, em 7 de fevereiro, o ofício 018/08 do Superior Tribunal de Justiça, informava ao inspetor-chefe da Receita Federal no aeroporto, Elis Marcio Rodrigues e Silva, que Carlos Gustavo é filho de Carlos Alberto Menezes Direito, ministro do Supremo Tribunal Federal, e solicitava que ele e a mulher recebessem "atendimento especial para o desembarque".
Mudança de classe - O cidadão comum, que paga religiosamente seus impostos, precisa amargar horas e horas nos saguões dos aeroportos em uma rotina que passa por enormes filas de check-in, revistas de agentes da Polícia Federal e inspeções da alfândega. Mas os parentes e amigos dos ministros Direito e Fux não só passam ao largo desse ritual incômodo como ganham até a oportunidade de mudar a classe da sua passagem, o que no jargão das companhias aéreas se chama de "upgrade".
Em 3 de dezembro de 2008, o gerente da Air France no Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro, Antônio Jorge Assunção, recebeu o ofício 112/08 do STJ. No documento, é solicitado que Carlos Gustavo Vianna Direito, filho do ministro do STF, e a juíza Daniella Alvarez Prado tenham acesso à sala VIP da companhia aérea, "atendimento especial e check-in com assento no up deck" do voo 0447 com destino a Paris. Up deck é a nominação do pavimento superior do Boeing 747 usado na ocasião pela Air France em voos intercontinentais. Segundo um funcionário da companhia, era lá que ficava a primeira classe. Em valores atuais, uma passagem Rio-Paris-Rio varia de R$ 3.800 a R$ 6.200 na classe econômica, custa cerca de R$ 9.000 na executiva e R$ 19.600 na primeira classe. A Air France, segundo informação contida nos sites dos tribunais, é parte em 111 processos no STJ e em 50 no Supremo Tribunal Federal. Três deles encontramse sob a responsabilidade do ministro Direito, cujo nome consta no ofício 112/08, expedido depois da entrada em vigor da norma do presidente Cesar Asfor Rocha, limitando este privilégio apenas aos ministros do STJ e suas esposas. Na tarde da quarta-feira, 29 de abril, Istoé entrou em contato com o gabinete de Direito e também com a assessoria de imprensa do STF, mas não conseguiu ouvir o ministro. "Não era coisa específica minha, era coisa do Tribunal. Talvez fosse derivada do relacionamento do chefe da representação do STJ no Rio com os funcionários do aeroporto", disse o ministro Fux referindo- se a Moretzsohn.
Os documentos do Superior Tribunal de Justiça relacionando os privilégios concedidos aos parentes e amigos dos ministros das mais altas cortes do País são de 2008. No entanto, um ministro do STF ouvido na última semana por ISTOÉ admite que esses benefícios possam ser bem maiores do que os até agora revelados.




