domingo, 27 de dezembro de 2009

A conferência climática da ONU em Copenhague..

DEPOIS DE UM ENCONTRO QUE TEVE GASTOS MILIONÁRIOS E UMA DECISÃO FRACA COM RELAÇÃO A DIMINUIR A EMISSÃO DE CO2, FICA A DÚVIDA - ESSES "LÍDERES" MUNIDAIS SÃO LOUCOS OU ESTÃO TENTANDO ENGANAR O MUNDO COM FALSAS PESQUISAS DE AQUECIMENTO?

VEJAM A REPORTAGEM DA REVISTA ISTO É Edição: 2093

Assim deve ser o mundo

Se não conseguirmos conter o aquecimento global, nosso planeta mudará radicalmente nas próximas décadas. Conheça esse futuro sombrio

Eduardo Araia e Hélio Gomes

TERRA QUENTE Queimadas, como a da foto feita no Pará, cospem toneladas de CO2 na atmosfera

Graças à evolução impressionante das técnicas de computação gráfica, o cinema-catástrofe volta a viver uma fase de ouro em Hollywood. O talento de artistas para criar tornados digitais, tempestades de neve virtuais e toda sorte de hecatombe leva milhões de pessoas às salas de projeção. Um dos filmes recentes do gênero, “O Dia Depois de Amanhã” (2004), mostra o que uma crise ambiental de proporções gigantescas pode causar em nosso planeta. Sucesso imediato.

Infelizmente, o enredo que se desenrola à nossa frente parece ter semelhanças demais com a ficção. Se não tomarmos medidas concretas para deter o avanço do aquecimento global, a Terra pode sim mudar radicalmente e virar o cenário de uma história catastrófica, da qual seremos tristes protagonistas. Caso a humanidade consiga limitar o aumento na temperatura em 2ºC até 2100, objetivo perseguido em vão durante a COP-15, já teremos de lidar com alterações significativas (leia quadro abaixo). Se não fizermos absolutamente nada e continuarmos a emitir gases do efeito estufa no mesmo ritmo das últimas décadas, os termômetros podem subir até 5,8ºC ao final do século. Neste caso, melhor seria procurar outro planeta disponível para abrigar alguns bilhões de pessoas.

O principal gás do efeito estufa emitido pela atividade humana é o CO2, proveniente do consumo de combustíveis fósseis – petróleo, carvão e gás –, das queimadas das florestas e das atividades agrícolas. Antes da Revolução Industrial, o nível de CO2 no ar rondava as 290 partes por milhão (ppm). Em 2009, alcançou 385 ppm, e a cada ano sobe entre 2 ppm e 3 ppm. Quando se somam o metano e outros gases do efeito estufa ainda mais poluentes, esse nível já atinge cerca de preocupantes 440 ppm.

DANO IRREVERSÍVEL
Mesmo que zerássemos as emissões de CO2 hoje, a Terra ficará 0,50C mais quente até 2040

Atitudes conjuntas As mudanças e adaptações impostas pela atual situação são de responsabilidade de todos. Se os líderes mundiais patinaram em Copenhague, cabe à sociedade civil cobrar atitudes locais de seus governantes. A cada um de nós, ainda resta a oportunidade – ou obrigação – de tomar atitudes ambientalmente adequadas no dia a dia. A informação está disponível, seja nas páginas desta edição de ISTOÉ, seja nos inúmeros sites e publicações sobre o estilo de vida verde. Basta querer.

O fato, facilmente confirmado pelas recentes vítimas das enchentes na cidade de São Paulo, é que já vivemos em um planeta em mutação climática. Como o CO2 fica aproximadamente 30 anos na atmosfera do planeta, a temperatura média global deve subir cerca de 0,5ºC nas próximas décadas, quaisquer que sejam as medidas tomadas para diminuir as emissões. Portanto, vêm aí tempos mais difíceis para todos – porém, no mínimo instrutivos, como observa Thaís Murce, ex-coordenadora do Programa Tecnológico de Mitigação das Mudanças Climáticas do Centro de Pesquisas da Petrobras (Cenpes) e atual gerente da Petrobras Biocombustível: “O aquecimento global desfavorece o desenvolvimento sustentável, mas, ao mesmo tempo, buscar essa sustentabilidade é muito importante no processo para aumentar nossa resiliência às mudanças climáticas. Temos de desenvolver novos processos e negócios com essa consciência.”

Futuro de dor
Saiba como poderá ser o planeta no ano 2100 se a temperatura média subir 2ºC




"Copenhague Derreteu"

Carlos José Marques, diretor editorial

O mundo decidiu adiar em mais um ano o compromisso de controle das emissões de gases causadores do efeito estufa na atmosfera. Adiaram o inadiável. A ideia de retardar o acordo veio justamente dos EUA e da China, nações que estão entre as mais poluidoras do planeta. O argumento das duas: ainda não estão em condições de assumir metas de redução. Acham prematuro fechar um número seguro em poucas semanas para apresentar na Conferência do Clima que acontece em Copenhague, no mês de dezembro.

Ficou então definido um prazo maior, até o final de 2010, quando efetivamente sairia o tratado com força de lei para combater o aquecimento global.
Nesse campo do aquecimento, a situação já é de calamidade. Nenhum país minimamente informado tem como negar. As mudanças do clima e a desordem nas estações tempestades de chuva, neve e granizo fora de hora, enchentes, furacões e tornados com força incomum avançam em cadência acelerada.
As grandes catástrofes naturais viraram corriqueiras e Copenhague apresentava-se como passo definitivo para virar o rumo desse processo. Pelo acertado na semana passada entre EUA e China, com a chancela de outros 18 países participantes do Fórum de Cooperação Econômica Ásia-Pacífico, Copenhague vai agora se resumir a passo preliminar, com uma declaração de intenções dos participantes sobre o controle dos gases jogados na atmosfera.
Não haverá metas compulsórias, em especial por parte das maiores potências. A questão em jogo é puramente de ordem econômica e política. Por um lado, países temem comprometer o desenvolvimento de seus mercados. Por outro, esbarram em resistências internas, de empresários a parlamentares/lobistas.
Nos EUA, o Congresso impôs uma trava consistente nesse aspecto. Mesmo o projeto de corte de meros 17% sobre o nível atual de emissões, já enviado pela Casa Branca, foi barrado na saída. Por convicção, o líder do mundo livre, Barack Obama, manifestou seu interesse em resolver o problema, mas precisa de um apoio político que não tem.
No retrato do momento, o Brasil está se saindo melhor. Projetou-se na vanguarda da discussão ao estabelecer um generoso percentual de redução de emissões – de 36,1% a 38,9% – para o período de 2010 a 2020.Ainda não definiu exatamente como, em que prazo e a que custo irá cumprir esse objetivo. Mas surpreendeu economias desenvolvidas com uma meta concreta e pode se converter em líder do movimento de proteção ao planeta.
O presidente Lula quer mais. Está comandando uma reação para salvar Copenhague a partir de uma aliança que começou a costurar em sua passagem na semana passada pela Europa. França, Inglaterra e Itália, além de países da África e de uma parte da Ásia, todos sensíveis ao temor de que a demora pode provocar um cenário irreversível, pretendem assinar um manifesto, a ser lido por Lula, pedindo urgência nas medidas.

Parece miopia ou insensibilidade o descaso com que as grandes nações poluidoras tratam o tema. Se seguirem assim, vão ter que pagar um preço caro demais lá na frente.